Ilustrações científicas nos remetem aos macro e microuniversos que nos circundam com infinitas cores e formas, oriundas da flora e da fauna que habitam nossos rios, matas e mares. Diferentemente de imagens que possam nos transportar a um mundo onírico de imaginações e fantasias, essas ilustrações precisam ser lidas, pois sua interpretação requer um certo conhecimento específico ao meio das ciências.
Não obstante, a força da arte decodifica e transpõe informações técnicas em imagens capazes de despertar no observador um olhar curioso sobre os temas da ciência e natureza, fazendo com que mesmo um leigo fique perplexo com a beleza dos seres que povoam o planeta.
O século XIX foi o período com a maior produção de álbuns de viajantes e História Natural, todos ilustrados, o que fazia com que as diferentes formas da natureza viajassem ao redor do mundo, despertando curiosidades e interesses por meio das gravuras.
As obras de Carl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix, sem exceção, são acompanhadas de gravuras originais e integram esse movimento em busca de expansão e divulgação do conhecimento. Em litografia ou metal, coloridas a mão ou impressas em cores, foram usadas em prol da divulgação científica, possibilitando desenhos e pinturas realistas e expressivas das naturezas visitadas por Martius e Spix.
É marcante a importância dos ilustradores de História Natural no registro e divulgação dos temas correlatos à natureza, principalmente na representação dos aspectos das diferentes paisagens e dos caracteres diagnósticos das espécies. Nesse contexto, podemos observar que, a partir do novo sistema de classificação dos seres da natureza desenvolvido por Carl von Linné (1707-1778), as pranchas científicas passaram a incluir caracteres morfológicos internos e externos, tornaram-se mais ricas, detalhadas e, consequentemente, mais complexas, permitindo comparação e diagnose classificatória mais precisa, o que exigiu maestria técnica e apurada dos desenhistas sob a supervisão dos pesquisadores.
As gravuras das obras produzidas por Martius e Spix foram produzidas em momentos distintos, que incluíam, primeiramente, coleta das impressões fisionômicas, registros in loco por inúmeros artistas e pelos próprios naturalistas, com anotações e esboços de campo.
Atualmente, a ilustração científica aliada ao tratamento artístico, continua a desempenhar um papel preponderante em estudos taxonômicos, pois ainda é o meio mais eficaz para evidenciar as diferenças que permitem o reconhecimento de plantas e animais.
As imagens para a ciência, não só nas obras de Martius e Spix, tangenciam a busca da verossimilhança e realismo na representação fiel dos seus elementos, nos convidam a entender que a ilustração científica reflete mais do que se enxerga, mais do que se entende e do que se pensa, pois ela vê além, vê dentro, vê fora. Reflete a existência de um ser, que pode estar fora do nosso alcance, em risco, à beira da extinção. Contudo, aqui ela se apresenta na sua plenitude e cumpre o seu papel, de representar seus objetos de forma nítida, permitindo-nos sonhar em ter em nossas naturezas a mesma clareza e permanência, principalmente, preservadas e intactas.